Propondo reflexões: Colaboração do aluno da Escola de Adoradores ADD (Artistas de Deus) – Jhonata Matias.
A institucionalização do verbo
A incansável busca do ser humano por estabelecer padrões, normas, regras e modus operandi é tão antiga que, por vezes, pode se confundir com a própria gênese do processo de pensar “sociedade” ou um projeto que seja uma tentativa de englobar diferentes pensamentos. Tal corrida alcançou os pilares das mais diversas instituições, sendo a igreja uma delas. A partir do processo de canonização tentou-se definir o que é ou o que deixa de ser inspiração divina na literatura bíblica – será que as conclusões atuais apontam para um sucesso neste projeto? Vejamos.
O curso da história demonstra uma série de ruptura, umas grandes, outras mais modestas, porém, desconsiderando amplitudes, todas elas levaram os sujeitos, que se permitiam, a refletir sobre o modo no qual seus próprios pilares estavam sendo construídos. Permita-me uma breve pausa para fazer alusão a uma tentativa de significar canôn: “regra que diz respeito à fé, à disciplina religiosa.” (Dicionário da língua portuguesa). Ao refletir nesta denotação do termo aqui comentado, percebe-se traços muito fortes de uma tentativa de universalizar ou globalizar a mensagem do Deus que ao longo de toda história se mostrou interessado em experiências individuais com o sujeito.
É de conhecimento comum, em dias atuais, que tentar “definir” o que é ou não é inspirado por Deus foi uma tarefa bem ousada que despertou diversos questionamentos extremamente razoáveis e plausíveis. Afinal, como a própria Palavra diz: “… ninguém conhece os pensamentos de Deus, a não ser o Espírito de Deus”. (1 CO 2.11). Atanásio (296-373), um dos pais da igreja, que participou do processo de segregação dos livros divinos e apócrifos, não descartou que estes poderiam conter material relevante, de leitura proveitosa.
Dessa forma, conclui-se que o cânon bíblico tratava, aparentemente, de uma forma de institucionalizar o dizer do Deus do que propriamente se preocupar com o conteúdo que o Deus da Bíblia, em proximidade à verdade, se mostrava inclinado a revelar-se. Lamenta-se, portanto, tantos anos de esforços para limitar o ilimitado, definir o indefinível e tentar dizer o indizível. Mais uma vez, recorremos a Palavra para destacar que apenas o Espírito pode exprimir o inexprimível.
Referências:
Bíblia sagrada. Disponível em: https://www.bible.com/pt/bible/129/1CO.2.11-12.NVI. Acesso em 28/04/2021.
SOARES, André. O processo de canonização da Bíblia Hebraica – sua história, critérios e consequências / André Soares ; orientador Reginaldo Araújo. – São Paulo, 2016. 103 f.
*Propondo reflexões a partir de uma seleção de anotações e recortes sobre textos.